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A Ceia dos Mendigo - Lusco Fusco SESC - EXPRESSÃO & ARTE (Engenho & Arte) por Francisco Sout

“A Ceia dos Mendigos” na Rua das Flores

A famosa cena da ceia dos mendigos, no filme “Viridiana”, do magnífico diretor surrealista Luis Buñuel, quando chegou às telas de Curitiba (e do Brasil) continha um corte de alguns segundos, feito pela censura, no exato momento em que os atores repetiam a cena clássica da “Santa Ceia”, de Michelangelo. É que a Igreja Católica tinha o poder, nos anos da ditadura, de vetar quaisquer cenas de filmes do cinema comercial ou do cinema de arte, que julgasse inadequadas… A indignação dos intelectuais ajudou no combate à censura oficial, mutiladora que era de obras de arte, até que, uma vez liquidada pela democracia, fosse devolvido ao brasileiro o direito de conhecer versões intactas de importantes filmes.

Pois foi evocando a ceia de Buñuel que os alunos do curso “Significação Teatral” do SESC da Esquina apresentaram na semana passada, em plena Rua das Flores, em frente à Galeria Schaffer, o quadro cênico.

Luiz Carlos Teixeira da Silva, professor do referido curso, foi quem teve a brilhante iniciativa de levar a proposta à rua, como já preconizava o dadaísmo do começo do século, e que foi usual nos happenings dos anos 60 e 70, e nas chamadas performances atuais.

Artraud, notável poeta e dramaturgo francês, já dizia em 1928: “a partir de agora, o teatro deixará de ser essa coisa fechada, aprisionada no espaço do palco, para converter-se num verdadeiro ato submetido a todas as solicitações e distorções ditadas pelas circunstâncias e na qual o acaso volta a ter importância”. É bem a propósito que a partir dessas idéias inovadoras e de vanguarda, Augusto Boal desenvolveu o seu fascinante “teatro invisível”.

Sob a direção de Lúcio Chrestenzen e Sabrina Rosa, o transeunte da Rua das Flores pode completar a interessante performance dos ótimos alunos do Curso de Teatro do SESC da Esquina, um evento que deu a Curitiba um clima de grande metrópole, pois é nas capitais do mundo que a ideia de se fazer teatro na rua, para um público não programado, que leva ao cosmopolitismo e a uma visão mais universalizada da arte.

Ilustração: “A Ceia dos Mendigos”. Foto Lúcio Chrestenzen.

Jornal: Jornal INDÚSTRIA & COMÉRCIO. Curitiba, 17 a 19 dez. 1988. p. 15. EXPRESSÃO & ARTE - Francisco Souto Neto


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